A dosimetria termoluminescente é uma ferramenta essencial para medir com precisão a dose de radiação absorvida por tecidos sensíveis durante exames de imagem odontológicos.
A segurança dos pacientes é cada vez mais priorizada, especialmente diante da exposição à radiação ionizante, essa técnica tem se mostrado fundamental para avaliar riscos e orientar boas práticas.
Um estudo conduzido pela pesquisadora Natalia de Oliveira Mantuano Guerra, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), utilizou a dosimetria termoluminescente para analisar a dose recebida pela tireoide e pelas glândulas salivares em exames de radiologia odontológica, trazendo conclusões importantes e diretamente aplicáveis à rotina clínica.
Neste artigo, resumimos os principais pontos da pesquisa e discutimos suas implicações para a segurança dos pacientes e a otimização dos protocolos radiográficos em odontologia.
Exposição à radiação em exames odontológicos
Os exames radiográficos são indispensáveis para o diagnóstico odontológico, mas representam uma das principais fontes de exposição à radiação ionizante na população.
Embora as doses em odontologia sejam geralmente consideradas baixas, os efeitos estocásticos da radiação, como o risco de desenvolvimento de câncer, não devem ser ignorados.
Especialmente quando envolvem órgãos críticos da região da cabeça e pescoço, como a tireoide, as glândulas salivares (parótidas, submandibulares e sublinguais), o cristalino e a medula óssea.
Esses tecidos apresentam maior radiossensibilidade e, portanto, demandam atenção redobrada em exames que envolvem radiação ionizante.
A inclusão das glândulas salivares como órgãos críticos pela ICRP 103 (2007) reforça a necessidade de estudos como o de Natalia Guerra, que utilizam medições precisas para orientar práticas seguras.
Dosimetria termoluminescente na radiologia odontológica
A dosimetria termoluminescente mede a radiação absorvida por um material (como o fluoreto de lítio dopado com magnésio e titânio – TLD-100) que, ao ser aquecido, emite luz proporcional à dose recebida.
A escolha pela técnica da dosimetria termoluminescente se justifica por diversas vantagens, como sua alta sensibilidade para detectar baixas doses de radiação, boa reprodutibilidade dos resultados e o fato de os materiais utilizados apresentarem características físicas semelhantes às dos tecidos humanos.
Além disso, essa técnica permite medir com precisão a dose absorvida tanto em pontos internos quanto na superfície do corpo.
No estudo de Natalia Guerra, os dosímetros foram posicionados em um simulador antropomórfico Alderson Rando, que representa um paciente do sexo masculino, especificamente nas regiões da tireoide e das glândulas salivares.
As exposições foram realizadas com um equipamento de raio-X odontológico Spectro 70X Seletronic, modelo bastante comum em consultórios no Brasil.
O exame periapical completo: foco da avaliação
O exame analisado foi o exame periapical completo (EPC), composto por 14 radiografias intraorais, divididas igualmente entre as arcadas superior e inferior.
Por sua frequência na rotina clínica, o EPC representa uma fonte relevante de exposição cumulativa à radiação.
Durante a simulação, todas as radiografias foram realizadas com técnica padronizada, incluindo angulações e distâncias foco-paciente, e os dosímetros foram posicionados conforme a anatomia real das estruturas estudadas.
Principais resultados da pesquisa
Os resultados obtidos no estudo são expressivos e reforçam a importância de adotar boas práticas em radiologia odontológica.
A maior dose absorvida foi registrada na glândula submandibular, com 3,78 mGy, seguida pela glândula parótida, com 3,55 mGy, e pela glândula sublingual, que recebeu 3,13 mGy.
A tireoide apresentou a menor dose entre os órgãos avaliados, com 1,80 mGy. Em relação à superfície de entrada (pele), as doses variaram entre 2,14 mGy e 2,61 mGy, dependendo da região irradiada.
O destaque para a glândula submandibular como a mais exposta se deve à sua localização anatômica, que a posiciona mais próxima ao campo de incidência nas radiografias da arcada inferior.
Implicações clínicas e recomendações práticas
A partir dos achados da pesquisa, várias recomendações podem ser aplicadas na rotina das clínicas de imagem odontológica:
Justificativa e otimização dos exames
Seguir o princípio ALARA (As Low As Reasonably Achievable) é essencial.
A exposição deve ser justificada clinicamente, e os parâmetros técnicos ajustados para minimizar a dose.
Uso do protetor de tireoide
A dose na tireoide pode ser significativamente reduzida com o uso adequado de protetores plumbíferos, desde que não interfiram na imagem.
O uso deve ser priorizado sempre que possível, especialmente em pacientes jovens ou em exames repetitivos.
Escolha consciente do equipamento
Equipamentos com colimadores retangulares, ajustes de tensão adequados e sensores digitais mais sensíveis contribuem para redução da dose.
Controle de qualidade
Testes periódicos de desempenho dos aparelhos, como camada semi-redutora (CSR), exatidão da tensão e tempo de exposição, são indispensáveis para garantir a segurança radiológica.
Treinamento da equipe
Capacitar os profissionais da clínica para o uso correto da técnica radiográfica e das proteções é fundamental para evitar exposições desnecessárias.
Conclusões do estudo
A dissertação de Natalia de Oliveira Mantuano Guerra evidencia que, mesmo em exames considerados de baixa dose como o EPC, estruturas sensíveis como a tireoide e as glândulas salivares podem acumular uma quantidade significativa de radiação.
Com base nesses resultados, reforça-se a necessidade de incorporar práticas de radioproteção, realizar auditorias periódicas com uso de dosimetria termoluminescente e investir em educação continuada para todos os profissionais envolvidos.
Reforce a proteção dos seus pacientes
A dosimetria termoluminescente é uma aliada poderosa no controle da qualidade e segurança dos exames radiográficos odontológicos. Com os dados certos, é possível proteger o que mais importa: a saúde dos seus pacientes.
Saiba mais sobre o uso do protetor de tireoide e por que ele é essencial na rotina da clínica de radiologia.