Achados em radiografias panorâmicas: a importância da interpretação correta para a saúde sistêmica

Os achados em radiografias panorâmicas são frequentemente determinantes para a saúde sistêmica, pois a mesma imagem que orienta o diagnóstico odontológico também pode revelar ateromas de carótida, flebólitos, sialólitos, tonsilólitos e calcificações do complexo estilo-hióideo, exigindo interpretação cuidadosa e encaminhamento oportuno quando necessário.

Entenda, a seguir, como reconhecer esses achados, por que eles importam para a prevenção de complicações cardiovasculares e infecciosas, e qual é o papel do cirurgião-dentista no encaminhamento e acompanhamento adequados.

Por que a panorâmica vai além do dente

A radiografia panorâmica permite, em uma única tomada, visualizar ossos maxilares, arcadas, seios maxilares e até porções da região cervical, o que favorece a identificação de alterações em tecidos moles e estruturas adjacentes muitas vezes assintomáticas. 

Como as calcificações de tecidos moles na cabeça e pescoço costumam não produzir sintomas, elas aparecem rotineiramente em exames de rotina e exigem do profissional sólido conhecimento anatômico e domínio de padrões radiográficos para não passarem despercebidas.

Achados incidentais mais comuns

A literatura revisada pelo estudo da Faculdade Independente do Nordeste destaca, como mais frequentes, os ateromas de carótida, flebólitos, sialólitos, tonsilólitos e calcificações do complexo estilo-hióideo. 

Entre esses, os ateromas carotídeos e as calcificações do complexo estilo-hióideo apresentaram maior incidência nos trabalhos analisados, o que os torna prioridades na triagem e interpretação pelo cirurgião-dentista.

Ateromas de carótida: sinal de alerta cardiovascular

A aterosclerose envolve o depósito de colesterol, cálcio e trombos nas artérias de médio e grande calibre, com espessamento da parede e risco de obstrução parcial ou total, os fragmentos podem embolizar e precipitar acidente vascular cerebral. 

Na panorâmica, placas calcificadas tendem a se apresentar como imagens radiopacas nodulares, alongadas ou triangulares, únicas ou múltiplas, geralmente na bifurcação da carótida comum, ao nível das vértebras C3–C4, abaixo e posterior ao ângulo mandibular, podendo também aparecer como finas linhas radiopacas próximas ao hióide.

achados em radiografia panoramica

Flebólitos: pistas de malformações vasculares

Flebólitos são calcificações relacionadas a malformações vasculares, comuns em áreas de baixo fluxo, nas quais depósitos de fosfato de cálcio se concentram e formam cálculos. 

Radiograficamente costumam ser ovais, de tamanhos variados e múltiplos; embora a radiografia convencional ajude na suspeita, a tomografia e a ressonância magnética oferecem melhor avaliação da extensão e do tecido mole associado.

Sialólitos: obstrução salivar que a panorâmica enxerga

A sialolitíase é a doença obstrutiva mais comum das glândulas salivares, resultante de nucleação cristalina seguida de deposição orgânica e inorgânica com mineralização por acúmulo de cálcio e variações de pH, a apatita é o componente frequente. 

A visualização do sialólito na panorâmica depende do grau de mineralização e, quando visto sobreposto à mandíbula, recomenda-se complementar com radiografia oclusal para diferenciar de outras radiopacidades.

Tonsilólitos: calcificações das tonsilas

Os tonsilólitos correspondem a calcificações distróficas das tonsilas palatinas, frequentemente ligados a história de amigdalite crônica e acúmulos de células e bactérias como foco inicial. 

Na panorâmica, tendem a aparecer como estruturas radiopacas sobrepostas à porção medial do ramo mandibular, exigindo correlação clínica e diferencial com outras calcificações adjacentes.

Complexo estilo-hióideo: quando o alongamento importa

O processo estilóide normalmente mede cerca de 25 mm e relaciona-se intimamente a vasos e nervos cervicais; seu alongamento ou calcificação do ligamento estilo-hióideo pode alcançar até 50 mm e caracterizar a síndrome de Eagle, com sintomas como disfagia, otalgia, disgeusia e cervicalgia. 

Na panorâmica, o complexo pode ser classificado como alongado (mineralização contínua), pseudo articulado (uma pseudo articulação com ligamentos estilomandibular/estilohioideo) ou segmentado (mineralização descontínua), o que auxilia na conduta.

Do achado à conduta: quando encaminhar

Nem todo achado incidental exige intervenção imediata; muitas situações pedem apenas acompanhamento criterioso, mas alterações com potencial sistêmico requerem encaminhamento. 

Além disso, a radiologia odontológica permite identificar tanto alterações bucais quanto sinais que sugerem doenças sistêmicas, ao evidenciar calcificações vasculares, mudanças em tecidos moles e padrões ósseos que indicam a necessidade de avaliação interdisciplinar.

Suspeita de ateroma carotídeo demanda avaliação cardiológica com exames laboratoriais e de imagem, como ultrassonografia Doppler, arteriografia ou cateterismo das artérias carótidas e vertebrais, visando reduzir risco de eventos cerebrovasculares.

Manejo específico por entidade

  • Ateromas de carótida: triagem em panorâmica e confirmação por métodos vasculares; a conduta é definida pelo especialista para restabelecer a perfusão e mitigar risco de AVC. 
  • Flebólitos: opções incluem observação, terapias a laser, farmacológicas, escleroterapia, radioterapia e cirurgia plástica, isoladas ou combinadas, conforme sintomas e impacto funcional/estético. 
  • Sialólitos: medidas conservadoras como massagem, hidratação e antibióticos quando houver infecção; cerca de metade não responde e pode requerer ordenha, remoção intraoral/extraoral ou cirurgia em cálculos maiores. 
  • Tonsilólitos: remoção indicada quando há dor, infecção ou edema, por pressão manual, curetagem sob anestesia local e, quando necessário, incisão. 
  • Síndrome de Eagle: terapia conservadora para desconforto moderado e, nos casos severos, abordagem cirúrgica do processo estilóide por via intraoral ou extraoral.

Papel estratégico do cirurgião-dentista

Cabe ao cirurgião-dentista reconhecer padrões radiográficos, diferenciar variações de normalidade e correlacioná-los com possíveis impactos sistêmicos, orientando o plano de tratamento e priorizando a segurança do paciente. 

Ao identificar achados incidentais relevantes, a atuação inclui informar, registrar, complementar a investigação por exames adequados e encaminhar ao especialista, integrando saúde bucal e sistêmica na prática clínica cotidiana.

Achados em radiografias panorâmicas: impacto sistêmico e prevenção

Com esses novos achados, ganha força a abordagem preventiva que integra odontologia e medicina, na qual a interpretação rigorosa e o encaminhamento tempestivo reduzem atrasos diagnósticos e elevam a segurança do paciente ao longo de toda a linha de cuidado.

Ao adotar a panorâmica como exame de triagem ampliado e padronizar a comunicação interdisciplinar, o cirurgião-dentista potencializa desfechos clínicos, antecipa riscos cardiovasculares e infecciosos e consolida o acompanhamento estruturado, sustentado pelos achados em radiografias panorâmicas.

Para quem deseja se aprofundar no tema, vale conferir um guia rápido com 6 respostas essenciais sobre a panorâmica.

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